17 outubro 2007

Sinais lúdicos

No aeroporto de Campo Grande, na loja de lembranças de viagem, há três espécies predominantes de animais de pelúcia, representantes da fauna pantaneira: os jacarés, as onças e... as vacas.

21 setembro 2007

World green web

A nova edição do respeitado dicionário da língua inglesa publicado pela Oxford traz expressões ambientalistas em suas páginas. Ali estão, por exemplo, "carbono neutro" (atingir um nível neutro de emissões de dióxido de carbono), "mercado de emissões" (vender ou comprar permissões emitidas por governos ou empresas para emitir uma certa quantidade de CO2) e "pegada ecológica" (quanto de emissões de gases-estufa cada indivíduo responde).

Os editores explicam que há dois tipos de novas palavras: inovações vinda de pesquisa & desenvolvimento, inseridas no cotidiano, e gírias que todo mundo está usando.

Em qual dos dois grupos você acha que as expressões verdes se inserem? Realmente acho que, hoje, estão mais para gírias. Tenho a impressão de que o tema forma uma bolha. Verde virou sinônimo de hype, aquele tipo de negócio que simplesmente pega mal ficar de fora - tal qual aconteceu com a internet dez anos atrás, com dinheiro e atenção e apostas altas. Assim como aconteceu com a World Wide Web, uma hora a bolha vai estourar. E, tal qual a WWW, só os mais fortes e estruturados resistirão.

A ver.

13 setembro 2007

Ricos, famosos e sustentados

(Grifos meus.)

"Empresa com histórico mundial em ações de responsabilidade social e ambiental, a Tetra Pak participa do Jet Set Tendencies 2008, evento responsável por lançar as novidades das grandes marcas do mercado de luxo. Neste ano, a festa será baseada no conceito da sustentabilidade.

A questão ambiental foi levada em conta em todos os detalhes do Jet Set Tendencies 2008. Entre as várias atitudes destacam-se o material gráfico feito em papel reciclado e a doação para uma fundação ligada ao meio ambiente do valor correspondente ao consumo de energia, água, lixo e CO2."


Porque rico que é rico paga para conservar, entendeu?

Boa noite e boa sorte

Todo santo ano cresce a lista vermelha das espécies que correm risco de extinção.
Todo santo ano eu me deprimo.

Lista Vermelha aponta 16 mil espécies ameaçadas de extinção

"(...) 'Os grandes primatas são nossos parentes mais próximos e criaturas muito especiais', afirma Russ Mittermeier, chefe do grupo de primatas da União Mundial para a Natureza (IUCN). 'Hoje podemos colocar os que restaram em dois ou três grandes estádios de futebol. Não sobraram muitos.'

Essa é apenas uma das más notícias que aparecem na nova versão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, organizada anualmente pela IUCN. Ela conta 16.306 espécies em risco - 188 a mais do que no ano passado. Um em cada quatro mamíferos está ameaçado, assim como uma em cada oito aves, um terço de todos os anfíbios e 70% das plantas já catalogadas."

Precisamos mesmo, de verdade, disso?

12 setembro 2007

Utopia versus realidade

Ontem vim trabalhar sem carro. Aproveitei a deixa para experimentar voltar para casa usando os transportes públicos, algo que não fazia desde que me mudei para um novo apertamento, há seis meses. "Afinal", pensei, "o Dia Sem Carro está chegando e, como vou trabalhar naquele dia, preciso saber como ir e voltar." No fundo, aspirava o momento de deixar o veículo emissor de poluentes em casa.


A empresa onde trabalho fornece transporte com um ônibus fretado até a estação de metrô mais próxima. Peguei o dito, que partiu às 20h20. Dez minutos depois, desembarquei na Barra Funda.

Primeiro obstáculo: moro em Pinheiros. Quem conhece São Paulo sabe que os dois bairros são bem próximos e que ambos apresentam estações de metrô, mas que não se falam diretamente. Dali a melhor opção seria o ônibus, mas realmente não queria pegar mais um monstrengo engolidor de diesel. Com tempo livre, resolvi ir mesmo por baixo da terra, a despeito da voltona que teria de enfrentar.

Segundo obstáculo: entre sair do ônibus fretado, comprar a passagem de metrô e entrar no vagão foram-se 10 minutos. Demorei mais 40 para chegar ao meu destino, a estação Sumaré, após duas baldeações e três trens diferentes. E 10 minutos de caminhada me separavam do meu lar, doce lar.

Gastar 1 hora para fazer um trecho pequeno é um tempão, sem dúvida, mas estava satisfeita por não ter entrado num ônibus (que, com espera e trânsito, poderia ter levado o mesmo tempo do metrô) e ter desembolsado apenas R$ 2,30. Até fiz contas mentais do gasto mensal caso deixasse o carro em casa definitivamente e lembrei dos livros que poderia ler no caminho.

Mas o terceiro obstáculo me fez lembrar por que, afinal de contas, sou motorizada.

Quase fui assaltada. Dois moleques, que espreitam na saída da estação, brincaram de gato-e-rato comigo, até que eu peguei um táxi. Três quadras, 2 minutos, R$ 6 e muita humilhação, tristeza, medo e revolta depois, cheguei em casa.

.....

Hoje vim de carro. Amanhã virei de carro.

Lamento.

Ainda não dá para deixar esse vício.

10 setembro 2007

A ferro e fogo

O governo deveria aproveitar a quebra do Ibama em dois para criar uma nova categoria de área protegida: a Unidade de Recuperação (UR). O modelo seria a Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó, interior de São Paulo.

Com 5,2 mil hectares, foi criada em 1992 após uma longa história de exploração. Vamos ao que conta o guia Moisés: o morro de Araçoiaba, riquíssimo em hematita, caiu no conhecimento dos portugueses em 1540, que tentaram fundir ferro algumas décadas depois. Não deu certo na época e o projeto ficou na gaveta da Coroa.

A família real, quando veio para a terra brasilis, retomou o projeto e firmou um contrato de trabalho com técnicos suecos, que abriram em 1811 a primeira siderúrgica do País, a Fundação Ipanema. Com água em abundância e árvores para alimentar os fornos, abasteceu o Brasil de ferro e aço para material bélico, arames, enxadas, pregos, machados e foices até o fim do século 19.

Com a proclamação da República, a siderúrgica, menina dos olhos da monarquia, foi fechada. A terra passou para as mãos do Ministério da Agricultura nos anos 20, que ali manteve até os anos 80 um campo de testes agropecuário. Havia apatita em abundância e área suficiente para experimentar de máquinas a búfalos. Quando o órgão que a administrava foi encerrado e sua sucessora ideológica, a Embrapa, não se interessou pela área, a fazenda foi oferecida ao povinho do ambiente.

O plano de manejo foi aprovado em 2003. Ele contempla o sítio histórico, um grupo de assentados dos MST e uma estrada de ferro que passa pelo meio da Flona e, volta e meia, contribui para incêndios da mata ressecada.

Originalmente, o local transitava da mata atlântica para o cerrado. Naturalistas de calibre passaram por ali. Não sobrou nada do original. Não há mata primária. É tudo capoeirão, capoeira e capoeirinha, pontuada por eucaliptos.

Hoje o local mantém um berçário de mudas de espécies nativas, que são usadas para recuperar o espaço bem aos pouquinhos. Os R$ 3 cobrados para visitar o local vão parar num saco sem fundo chamado "cofres da União".

Algumas aves sobrevivem, porém as mais fáceis de visualizar são os urubus (foto). Há capivaras, devidamente acompanhadas pelo carrapato-estrela. Estudos indicam a presença de carnívoros. Mas onça parda mesmo Moisés só vê quando é atropelada.

O livro "A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira", de Warren Dean, foi publicado originalmente em 1994.

06 setembro 2007

Uma idéia customizada

A Prefeitura de SP, em parceira com a fashionista-não-tiro-meus-óculos-escuros-gucci-por-nada-deste-mundo Lilian Pacce e outros mudernos, lança uma sacola de algodão para incentivar as pessoas a não dependerem tanto da sacolinha de plástico.

Diz que a Associação Paulista de Supermercados "já aderiu à campanha e está trabalhando para envolver todos os seus associados". Isso significa que vai colocar o tema no próximo boletim? Poderei dispensar a sacola plástica sem ser vista como um ET? Vou perguntar para eles.

É possível que não dê em nada, mas até pouco tempo atrás algo assim não passaria pela cabeça de ninguém. Mas peguei birra da execução: a sacola é cópia de uma iniciativa da designer de bolsas Anya Hindmarch, esta sim originalmente moderna, que virou febre entre os bem-nascidos no Hemisfério Norte. E a "idéia" nem foi creditada durante a divulgação do lançamento paulista. Plágio é feio, gente, mesmo com fins nobres.


04 setembro 2007

O negro não tão negro assim

Mais de mil empresas chinesas estão na lista negra ambiental

Pequim, 04 Set (Lusa) - A Administração Estatal de Proteção Ambiental (Sepa, na sigla em inglês) da China colocou 1.162 empresas e projetos na lista negra de contaminação ambiental só desde julho, informou nesta terça-feira a imprensa estatal chinesa.

Segundo o subdiretor da SEPA, Pan Yue, a agência fechou 400 empresas e as demais foram suspensas e multadas. O objetivo da ação é deter as emissões poluentes nas bacias dos rios Amarelo, Yangtse, Huaihe e Haihe, os maiores do país, de acordo com a agência noticiosa oficial Nova China.

Segundo Pan, no entanto, o fim das atividades de algumas unidades ainda está longe de solucionar o problema da poluição ambiental no país. "É necessário estabelecer um sistema de proteção ambiental para limitar o desenvolvimento de indústrias com altos consumos energéticos e altos níveis de emissões de poluentes", afirmou o subdiretor. (...)


A China é um desastre ambiental per si. Soluções são utopia. Mas o paliativo traz uma lição.

Desde o primeiro semestre, a Cetesb mapeia as 100 empresas que mais emitem gases-estufa no Estado de São Paulo. É a chamada Proposta Goldemberg, idéia lançada pelo então-recém-ex-secretário de Meio Ambiente, José Goldemberg, durante um evento sobre mudanças climáticas e acolhida por seu sucessor, Xico Graziano.

A lista está quase pronta. Porém, a equipe técnica verificou algumas incorreções nas informações passadas pelas empresas. Como cada uma usava a metodologia que melhor lhe convinha, há distorções gritantes: petroquímicas, por exemplo, não estão no topo das principais emissoras, nem perto dele.

A Cetesb está então revisando os dados e padronizando a metodologia. Mas necas de divulgar os nomes das empresas por enquanto. Existem negociações, pressões, arranjos.

Ninguém quer ficar mal na fita. Ninguém quer montar uma lista negra, como a chinesa.

03 setembro 2007

Uma valsa vienense

Na semana passada, negociadores de 154 países se trancaram num salão de Viena para acertar os primeiros passos do que pode ser um acordo pós-Protocolo de Kyoto.


Os países ricos (chamados Anexo 1) concordaram que devem cortar suas emissões de gases-estufa, até 2020, entre 25% e 40% em relação aos índices de 1990, para tentar evitar as conseqüências perigosas das mudanças climáticas. Hoje, eles seguem uma redução de 5,2%, em média, em relação a 1990, até 2012. É um patamar muito, mas MUITO, aquém do que é necessário.

O texto foi aplaudido por 10 segundos após sua aprovação. Todavia, há contudos.
- Esse é um avanço relativo, especialmente após os negociadores passarem tanto tempo sem um consenso. Porém está todo no condicional (vide itálicos), sem prazos e mandatos, que começarão agora a serem debatidos
- É esperado que países ricos, por sua responsabilidade histórica, assumam metas ainda mais restritivas. Acontece que os países "pobres" ficaram novamente de fora. E China já emite tanto quanto os Estados Unidos. Sem a participação dos países "pobres" o problema não será resolvido. É um baita descompasso

"E o Brasil?", você pergunta. Bom, meu caro, o Itamaraty está dando um chá de cadeira em quem espera que o País assuma metas mandatórias de controle dos gases-estufa. Mas ainda há tempo de brasucas aprenderem a bailar.

29 agosto 2007

Petróleo por comida

Por meio de um amigo que mora em Chicago, conheço uma feira de alimentos promovida na cidade. Green City Market, chama-se. Entrei no site (uma feira com site, trés chic!) e comecei a babar. A produção é sustentável e/ou orgânica e vem das redondezas, então você economiza gases-estufa do transporte e aproxima-se de quem planta sua comida. Os organizadores patrocinam projetos de educação e há sempre um chef para dar aulas e dividir receitas com quem aparece por lá.

Navegando, maravilhada, dou uma olhada nos patrocinadores.

O primeiro é BP America - British Petroleum America para os menos íntimos, uma das maiores petrolíferas do mundo.

...

O petróleo é um dos principais combustíveis fósseis que, queimados, enchem a atmosfera com CO2, agravando o efeito estufa.

A BP tenta, desde 2000, grudar uma imagem de ambientalmente responsável na mente dos consumidores: a identidade visual é toda verdinha e a empresa adotou o slogan "Beyond Petroleum" (além do petróleo). Mas tem falhado horrivelmente.

O jornal Chicago Tribune publicou, neste ano, a denúncia de que a BP recebeu aval estadual para poluir ainda mais os Grandes Lagos com amônia e resíduos sólidos. A empresa responde por um vazamento de 1 milhão de litros de petróleo no Alasca, ocorrido no ano passado. Grupos ambientalistas dizem estar preocupados com a segurança em outros pontos de exploração pelo planeta.

Claro que todo mundo tem direito a uma segunda chance, inclusive a BP. Mas que a feirinha "sustentável" tem cheiro a greenwash, isso tem.

Atualização de maio de 2009: a BP não é mais patrocinadora da feirinha. Ou caiu a ficha dos orgânicos de que era uma imensa contradição ou a BP achou que não valia a pena gastar um cent sequer com esse povinho convertido da ecologia...

28 agosto 2007

Um buraco na consciência

Hoje a Organização Meteorológica Mundial (WMO) anunciou que o buraco na camada de ozônio (lembra dele?) apareceu mais cedo e pode ser maior do que o registrado em 2006. Há dois anos, houve relatos de que estava enfim diminuindo. Mas ele continua lá, firme e forte.


Por enquanto, o buraco na camada de ozônio só sumiu mesmo do noticiário e da mente das pessoas.

Essa foi a primeira grande crise ambiental que mobilizou a humanidade. Quando ficou provado que os CFCs, gases usados em sprays de cabelo, geladeiras e em diversos processos industriais e agrícolas, atacam a capa de ozônio que nos protege dos raios ultravioleta, houve um levante para que seu uso fosse suspenso. O medo da radiação assombrava as pessoas.

Claro, houve gritaria de países desenvolvidos, que não queriam abrir mão dos CFCs, e do Terceiro Mundo, que dizia não ter dinheiro para agir. Tudo dentro do script: quando a Convenção de Montreal determinou a extinção dos CFCs, os países ricos já tinham desenvolvido tecnologias de substituição e os pobres tinham ajuda assegurada.

O problema do ozônio é emblemático em visões diametralmente opostas. É otimista ao lembrar que os países - quando querem - conseguem resolver suas diferenças e agir para resguardar o planeta. É pessimista ao saber que o tema pode facilmente cair no ostracismo.

Para agirmos contra o aquecimento global, problema urgente e ainda mais complexo, que exige comprometimento e estratégias de longuíssimo prazo, uma visão precisa da outra para sobreviver. Eu sou otimista.

O azul acima representa o buraco na camada de ozônio medido em 25 de agosto de 2007. O crédito da imagem é da Nasa; o crédito pelo problema é nosso

27 agosto 2007

Os olhos dos outros

Tento aliviar, dia a dia, minha pegada ecológica, ou seja, o impacto da minha existência na natureza. Por exemplo: comprei um carro flex fuel, com o motor mais eficiente que achei na minha faixa de gasto. Só uso etanol, mesmo quando compensa financeiramente abastecer com gasolina. E, quando posso, deixo o carro parado. (O ideal seria não comprar carro nenhum e só andar de bicicleta ou a pé. É, pois é. Ainda não dá.)

Agora estou tentando reduzir a quantidade de plástico na minha vida. Quero começar com as sacolinhas. Fui à feira com minha própria sacola. Nas lojas, dispenso a bendita sempre que é possível colocar a compra na bolsa ou levar na mão.

Foi quando descobri que a resistência maior está nos olhos de quem vê.

Cena: noite, frio, no supermercado. Compradora aparece com uma garrafa de vinho numa mão e um saco de areia para gatos na outra. Ela troca boas-noites com a caixa e paga com o cartão bancário. Está guardando a carteira quando percebe que a caixa está colocando suas compras em sacolas. Duas para cada produto.

A compradora fala:
- Hã, moça, 'brigada, mas dispenso a sacolinha.
A caixa continua em seu movimento automático.
A compradora fala mais alto e firme:
- Moça, eu não quero a sacolinha.
A caixa levanta o rosto, sorri e diz:
- Eu não escutei. Desculpe, senhora, o quê?
- Eu não quero a sacola de plástico.
- Mas ela vai junto.
- Eu não quero. Polui demais e não preciso.
- Mas como a senhora vai...?
- Na mão.
- Mas, senhora... Como, senhora?... Digo...
A caixa continua segurando as compras, desconcertada. A compradora dá um grande suspiro, puxa as sacolinhas das mãos estáticas da outra, tira o vinho e o saco de areia e vai embora, equilibrando os dois nos braços. Os olhos da caixa a acompanham até o horizonte.

E, veja, eu nem pedi meu dinheiro de volta por pagar pelas sacolinhas sem as usar...

23 agosto 2007

Passando o chapéu

A BirdLife International, uma parceria de organizações conservacionistas de diferentes partes do mundo, lançou hoje uma campanha de coleta de fundos para salvar 189 espécies de aves que podem sumir logo do planeta.


Para começar a brincadeira, o povo selecionou 17 bichos. Entre eles está o brasileirinho formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis), que vive nas restingas de Maçambaba, uma faixa estreita e curta no litoral fluminense, onde fica os municípios de Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Saquarema. Uma vez que a mata atlântica é o bioma mais arrebentado do País, nada mais óbvio que as espécies que só vivem ali (chamadas endêmicas) sigam o mesmo caminho.

Segundo a BirdLife, essas aves foram escolhidas pois, além de precisarem de ajuda urgente para sobreviverem, existem pessoas aptas para fazê-lo. Falta o dinheiro, diz o grupo.

Pois minha dúvida é a seguinte: será que as pessoas - você, eu, seu marido, sua avó - estamos prontas para abrir a carteira e dar, digamos, R$ 50 para salvar esse passarinho aí em cima, pequenininho e nada chamativo, que vive num trechinho de 40 km e parece estar com um cruel destino traçado a despeito da minha contribuição?

Crédito: SAVE/Pingo D'Água

Mas... 2ª parte

O IPCC havia acabado de divulgar seu capítulo sobre a economia do clima, o que cada empresa-governo pode-deve fazer. Basicamente a mensagem era "corra ou o bicho vai pegar".

Aí recebo o seguinte release: "Dia 24 deste mês, terça-feira, a APOLO (Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC) lança um concurso para estimular a pesquisa nas escolas públicas do entorno das empresas, sobre o meio ambiente."

Educação ambiental, muito bem. Vejamos até que ponto vai o comprometimento.

Mando um email para a assessoria. "Além disso, há algum projeto de redução das emissões de gases-estufa?"

...

Não, né?

...

O Pólo Petroquímico do ABC é formado por dez grandes empresas, como você pode checar em http://www.poloabc.com.br/.

Mas...

Recebo um relatório lindo, publicado em papel couché com verniz na capa, sobre como a Rolls-Royce tem trabalhado para deixar o planeta tão bonito quanto seus carros e aviões. Lá pelas tantas, diz que sua equipe estuda novas formas de energia: trocar o oil (petróleo) pelo coal (carvão).

...

É tudo combustível fóssil.

...

Queimados, os dois produzem CO2.

...

(Cadê a tal economia do hidrogênio que me prometeram?)