O governo deveria aproveitar a quebra do Ibama em dois para criar uma nova categoria de área protegida: a Unidade de Recuperação (UR). O modelo seria a Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó, interior de São Paulo.
Com 5,2 mil hectares, foi criada em 1992 após uma longa história de exploração. Vamos ao que conta o guia Moisés: o morro de Araçoiaba, riquíssimo em hematita, caiu no conhecimento dos portugueses em 1540, que tentaram fundir ferro algumas décadas depois. Não deu certo na época e o projeto ficou na gaveta da Coroa.
A família real, quando veio para a terra brasilis, retomou o projeto e firmou um contrato de trabalho com técnicos suecos, que abriram em 1811 a primeira siderúrgica do País, a Fundação Ipanema. Com água em abundância e árvores para alimentar os fornos, abasteceu o Brasil de ferro e aço para material bélico, arames, enxadas, pregos, machados e foices até o fim do século 19.
Com a proclamação da República, a siderúrgica, menina dos olhos da monarquia, foi fechada. A terra passou para as mãos do Ministério da Agricultura nos anos 20, que ali manteve até os anos 80 um campo de testes agropecuário. Havia apatita em abundância e área suficiente para experimentar de máquinas a búfalos. Quando o órgão que a administrava foi encerrado e sua sucessora ideológica, a Embrapa, não se interessou pela área, a fazenda foi oferecida ao povinho do ambiente.
O plano de manejo foi aprovado em 2003. Ele contempla o sítio histórico, um grupo de assentados dos MST e uma estrada de ferro que passa pelo meio da Flona e, volta e meia, contribui para incêndios da mata ressecada.
Originalmente, o local transitava da mata atlântica para o cerrado. Naturalistas de calibre passaram por ali. Não sobrou nada do original. Não há mata primária. É tudo capoeirão, capoeira e capoeirinha, pontuada por eucaliptos.
Algumas aves sobrevivem, porém as mais fáceis de visualizar são os urubus (foto). Há capivaras, devidamente acompanhadas pelo carrapato-estrela. Estudos indicam a presença de carnívoros. Mas onça parda mesmo Moisés só vê quando é atropelada.
Um comentário:
Sensacional. Esse blog vai longe.
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