10 setembro 2007

A ferro e fogo

O governo deveria aproveitar a quebra do Ibama em dois para criar uma nova categoria de área protegida: a Unidade de Recuperação (UR). O modelo seria a Floresta Nacional de Ipanema, em Iperó, interior de São Paulo.

Com 5,2 mil hectares, foi criada em 1992 após uma longa história de exploração. Vamos ao que conta o guia Moisés: o morro de Araçoiaba, riquíssimo em hematita, caiu no conhecimento dos portugueses em 1540, que tentaram fundir ferro algumas décadas depois. Não deu certo na época e o projeto ficou na gaveta da Coroa.

A família real, quando veio para a terra brasilis, retomou o projeto e firmou um contrato de trabalho com técnicos suecos, que abriram em 1811 a primeira siderúrgica do País, a Fundação Ipanema. Com água em abundância e árvores para alimentar os fornos, abasteceu o Brasil de ferro e aço para material bélico, arames, enxadas, pregos, machados e foices até o fim do século 19.

Com a proclamação da República, a siderúrgica, menina dos olhos da monarquia, foi fechada. A terra passou para as mãos do Ministério da Agricultura nos anos 20, que ali manteve até os anos 80 um campo de testes agropecuário. Havia apatita em abundância e área suficiente para experimentar de máquinas a búfalos. Quando o órgão que a administrava foi encerrado e sua sucessora ideológica, a Embrapa, não se interessou pela área, a fazenda foi oferecida ao povinho do ambiente.

O plano de manejo foi aprovado em 2003. Ele contempla o sítio histórico, um grupo de assentados dos MST e uma estrada de ferro que passa pelo meio da Flona e, volta e meia, contribui para incêndios da mata ressecada.

Originalmente, o local transitava da mata atlântica para o cerrado. Naturalistas de calibre passaram por ali. Não sobrou nada do original. Não há mata primária. É tudo capoeirão, capoeira e capoeirinha, pontuada por eucaliptos.

Hoje o local mantém um berçário de mudas de espécies nativas, que são usadas para recuperar o espaço bem aos pouquinhos. Os R$ 3 cobrados para visitar o local vão parar num saco sem fundo chamado "cofres da União".

Algumas aves sobrevivem, porém as mais fáceis de visualizar são os urubus (foto). Há capivaras, devidamente acompanhadas pelo carrapato-estrela. Estudos indicam a presença de carnívoros. Mas onça parda mesmo Moisés só vê quando é atropelada.

O livro "A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira", de Warren Dean, foi publicado originalmente em 1994.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sensacional. Esse blog vai longe.